Em 23 de março iniciaremos o curso Tecnopolíticas: ciência e tecnologia na construção de mundos, no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Unifesp. Essa edição nasce de uma nova dobra provocada pelo acontecimento pandêmico sobre as investigações que realizamos no Pimentalab. Incorporamos também no percurso atual da disciplina, questões que emergiram durante o experimento coletivo Zona de Contágio, projeto de pesquisa-extensão realizado durante o ano de 2020.
Partimos de duas constatações que se tornaram muito visíveis durante a experiência da pandemia:
(a) vivemos em ambientes extremamente organizados pelo desenho de grandes arranjos sociotécnicos, cujo modo de funcionamento possui forte agência sobre nossos modos de vida. Basta pensar em nossas cidades, em nossa dependência das infraestruturas de comunicação, nas redes de distribuição e fornecimento de bens e serviços básicos, nos modos de organização do trabalho etc.
(b) o regime tecnocientífico e o desenvolvimento tecnológico, gestado e promovido nas alianças entre grandes corporações privadas e os Estados nacionais, são sócios e parte do problema que hoje enfrentamos (crise ambiental, covid-19, as muitas formas de reprodução do colonialismo, racismo e desigualdades intensificadas por certos arranjos tecnopolíticos extrativistas).
Disso decorre uma hipótese grave: talvez não possamos resolver um problema com os mesmos recursos que produzem o problema.
Quais seriam então os desenhos possíveis de outros modos de conhecer e das tecnologias necessárias que possam apontar para rotas de fuga do capitaloceno-plantationoceno e das formas renovadas de dominação e extração?
Quais os modos de composição possíveis entre formas de vida e arranjos tecnológicos? Criação de novas tecnologias, subversão do código técnico, reapropriações tecnológicas? Quais as armadilhas?
Quais as possibilidades e limites de ressignificação de tecnologias cujo modo de funcionamento contrabandeia racionalidades e normatividades capitalistas, coloniais, sexistas, racistas?
Como acompanhar e fortalecer a tecnodiversidade reivindicada por coletividades que interrogam a monocultura tecnocientífica?
Se cada forma de vida é indissociável da produção de infraestruturas que sustentam um mundo comum, parece então urgente investigar a hiṕotese de uma multiplicidade cosmotécnica como possível rota de fuga da catástrofe atual.
Mais informações: Tecnopolíticas: ciência e tecnologia na construção de mundos