Como alguns emails trocados entre os professores da EFLCH/Unifesp acabam circulando para além das listas em que foram originalmente escritas, vou adotar a prática de publicizar algumas mensagens que escrevo em contextos de crise. Evidentemente, farei isso levando em conta a não exposição de terceiros que por ventura estavam envolvidos na conversação dentro da lista. A mensagem abaixo foi escrita no âmbito de uma discussão entre professores sobre a ocupação estudantil realizada no segundo semestre de 2017, durante os protestos contra a PEC241/PEC55.
——– Forwarded Message ——–
Subject: | Re: [Docentes.EFLCH] detalhes do processo negociação c/ ocupação |
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Date: | Thu, 1 Dec 2016 13:11:10 -0200 |
From: | Henrique Parra |
Car@s, A comunicação pela internet costuma gerar muito ruído. São diversas as cartas produzidas pelo Movimento de Ocupação, além de posts em grupos/paginas do FB etc, gerando facilmente confusão nas interpretações. O mesmo acontece com nossas mensagens em diferentes canais. A conversa presencial é sempre melhor para minimizar mal entendidos. Como sabem, o trabalho da escrita e interpretação textual é uma tarefa infinita. Ainda assim, quero compartilhar mais um relato e mais um ponto de vista. Pelas mensagens enviadas pelos ocupantes entendo que o campus estará reaberto a partir desta sexta-feira, e que nós professores poderemos nos reunir com nossas turmas a partir de segunda-feira. A Congregação se reunirá na segunda-feira de manhã para analisar a situação. Também foi chamada uma reunião dos professores para esta sexta-feira (pelo chamado entendo que não se trata de uma assembléia), efetivando a reabertura do campus e também criando uma possibilidade de encontro presencial entre nós. Este é o cenário que vejo para o curto prazo. Neste semestre ministro a disciplina do estágio supervisionado III. Muitos dos alunos estão com contratos firmados com museus, ONGS, escolas. Em razão de demandas dos estudantes (devido a dinâmica do campo do estágio) realizei ontem supervisão individual no CEU Pimentas, utilizando o espaço da biblioteca. Um bom numero de estudantes compareceu, conforme o agendamento que realizamos. Outros não puderam ou não precisaram vir (e me enviarem suas justificativas). Em um intervalo nas supervisões fui ao campus onde acontecia a reunião da D.A., professores e os ocupantes. Não fiquei para a reunião, mas queria ir lá para prestar solidariedade aos colegas professores que tentavam duramente construir alternativas. Fiquei alguns minutos e logo voltei ao CEU. Na saída encontrei com os estudantes que estavam chegando de onibus naquele momento de Brasília. Conversei com eles e ouvi os relatos sobre a experiência da manifestação e da violenta repressão policial que sofreram por lá. Também manifestaram preocupação com a busca por saídas para a ocupação. Minha impressão da situação: os problemas do nosso campus refletem claramente todas as dificuldades políticas que temos neste momento histórico. Não há grupos/posições homogênas, planos de curto ou longo prazo, nem canais institucionais com ampla capacidade de operação. As pessoas (individualmente ou em seus pequenos coletivos) estão agindo de maneira impulsiva e falta muita capacidade de diálogo e construção do comum, mesmo entre aqueles que parecem compartilhar os mesmos valores e princípios ético-políticos. Sigamos na busca por alternativas coletivas. Encontrar nossos estudantes é a melhor maneira de desconstruir o que de fora parece ser um jogo de posições constituídas, binárias e organizadas. Atualmente, nem estudantes nem professores seriam capazes de produzir, de cada lado, um documento capaz de sintetizar uma tomada de posição homogênea sobre a situação. Infelizmente, nossos espaços de representação estão todos corroídos (da EFLCH ao Congresso Nacional). Por isso, parece-me oportuno a possibilidade do encontro físico para produzir um terreno minimamente comum de entendimentos sobre o qual possamos reconstruir nossas instituições. Não será pela força, nem por mecanismos de autoridade externa que seremos capazes de ativar nossas frágeis instituições, muito menos de fazer universidade. Por fim, uma hipótese otimista diante dos problemas nacionais e locais que enfrentamos. Talvez, possamos apostar numa capacidade de invenção e confiança na busca por novas formas de organização e de construção institucional. Quem sabe, no meio de todo esse caos, no qual a EFLCH parece ser uma antena de antecipação das reconfigurações da política, possamos gestar outras formas de fazer política. Sempre achei que os conflitos de 2012 eram prototípicos dos problemas que estavam por vir no cenário nacional. E eles aconteceram. De repente, agora, na borda em que estamos, ao invés de antecipar o desmoramento (que já aconteceu Brasil afora), possamos inspirar outras alternativas. Há braços, Henrique Parra